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e-book: Releituras em tempos de pandemia

afinidades

radicalmente

eletivas


por Neiva Bohns


Tatiana Duarte e Thiago Rodeghiero, uma dupla de artistas e de pesquisadores que vive e trabalha no sul do Brasil, envolveu-se, nos últimos meses, num interessante projeto de “releituras” de imagens de obras de arte, que começou como passatempo e foi assumindo ares profissionais. O casal, que transita entre artes visuais, teatro improvisacional, performance, fotografia e design, elegeu, cuidadosamente, um conjunto de imagens a serem recriadas com seus próprios corpos e objetos pessoais, no ambiente doméstico em que ficaram reclusos por causa da pandemia. Assim, a casa, de espaço privado e íntimo, que funciona como uma célula protetora, passou a adquirir as características de palco e de vitrine expositiva. Na medida em que iam sendo produzidas, as novas obras eram publicadas nas redes sociais, gerando participação imediata por parte de um público fiel, formado por diferentes faixas etárias, que passava a conhecer (ou reconhecer), as referências originais.







O título da publicação que reúne esta seleção de imagens nos situa nestes estranhos tempos de isolamento social, em função da pandemia da Covid 19. Tivemos que entender, num curto espaço de tempo, o que estava acontecendo, superar o medo, identificar as informações mais confiáveis disseminadas pelas instituições governamentais, pelos meios acadêmicos, pelos órgãos de imprensa profissional e pelas redes sociais, e tomar medidas preventivas para evitar o contágio e as graves consequências de uma doença ainda pouco conhecida pelos cientistas.

Vistas assim, numa publicação especial, as imagens inicialmente brincalhonas assumem um caráter performático e instigante, tendendo a provocar ainda mais o olhar do observador. Que tipo de conclusão podemos tirar de uma experiência tão intensa, vivida por duas pessoas que assumem publicamente o seu amor e a sua vontade de viver e de criar, nesses tempos estranhos, cheios de temor e de insegurança?

Sabemos que a experiência do isolamento social provocada pela grave pandemia que atingiu boa parte da população mundial trouxe grandes desafios para os que optaram pela preservação da vida. Também nós tivemos que transformar nossos lares em ambientes multifuncionais: espaço compartilhado, lugar de sobreviver, de cuidar da alimentação e da saúde, de conviver consigo mesmo, com outras pessoas, e de trabalhar criativamente. Fomos obrigados a explorar, de maneira inédita, as possibilidades dos recursos de comunicação à distância. As nossas atividades profissionais tiveram que ser adaptadas a uma nova realidade e o contato interpessoal passou a ser mediado pelos dispositivos eletrônicos. E, mesmo assim, foi possível encontrar, nas práticas criativas, as melhores soluções para não morrermos de pânico, de tédio, de solidão, ou afogados nas numerosas lives diárias oferecidas incessantemente.

Analisando a riqueza dos elementos constitutivos e a qualidade técnica das imagens produzidas pelos artistas, dignas de figurarem em importantes exposições, percebe-se que houve um processo bastante complexo de recriação de obras, com grande liberdade e rigor formal. Ousaria ainda dizer que os dois artistas-pesquisadores, que mantêm intactos os seus mais puros impulsos criativos, e talvez apenas precisem de algumas gotas de incentivo para seguir em frente, rumo ao desconhecido, estão ensaiando experiências que, gradativamente, tendem a ser cada vez mais autorais nas temáticas e nas soluções formais. Espero, alegremente, que este trabalho criativo, nascido da intersecção de várias linguagens artísticas, que consegue manter a leveza e o senso de humor, siga seu caminho, fazendo do mundo da arte a sua casinha expandida.


Pelotas, 04 de outubro de 2020






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